“Ante o pesado do mundo/ Por dentro”/ Leonardo Vieira de Almeida (trad.)

POEMA EM PAMPA

Tudo quieto e findo

E pura sensação de paz

Como agora

Um cubo desabitado,

Sóbrio

E com aroma de madeiras

Porém fruto das sombras

E das luzes dos dias

A descoberto

Em flagrante

A viagem, o regresso

E a espera de esperar

Ave metálica no interior

 

Desse cubo bendito

Alvoroço estridente

E não menos invisível

Entre aroma de madeiras

Hei de morrer, hei de despedir-me

Ou ao menos hei de empreender

Algum tipo de viagem

Vagabundear um átimo

Pelo que somos

Assim me olha Germán

E me contempla

Minha amorosa mãe já

 

Desaparecida

Ave de asas no topo

Entre os ângulos de meu cubo

Ânsias de amor, desassossego

Ante a ausência de janelas

Você é minha janela, a paz,

A bem-aventurada alegria

Neste mundo

E a roda, a aspa,

O salto no vazio

 

Que somos

No interior de seu corpo

Também tênue gaze

E o leve

Apenas se resiste

Fui um poeta entretido

Pela pele e seu sabor

E suas morenas e cálidas mãos

Que tentam todavia

As polegadas de meu ser tornadiço

Às suas carícias

Sensível a aura de sua espera

Flor de mirada aberta e fecunda

Talvez não saiba morrer

Talvez decepcione no

Último minuto

Metálica ave incômoda

 

De bico e garras

Contra superfície tão brunida

 

Do cubo

 

De ombros e esplêndida cabeça

Ante o pesado do mundo

Por dentro

Imagen: “Agujero negro” por Olga de Amaral.

Poema em pampa/ Leonardo Vieira de Almeida (Tradução)

Puntuación: 5 / Votos: 1

Deja un comentario

Tu dirección de correo electrónico no será publicada. Los campos obligatorios están marcados con *