[Sobre o cimento fresco]/ Leonardo Vieira de Almeida (Trad.)

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Sobre o cimento fresco

do mudo mar de minha cidade

– entre os tristes botes

das docas de pescadores –

lanço minhas redes. Desmanchadas

minhas perguntas

são uns desejos mais

sobre a imantada superfície.

Sombras efêmeras

meus anseios.

Quero morrer. Morrer.

Ficar em dia,

como disse alguma vez, de velhez,

meu cansado pai.

Quero morrer

e fazer tudo mais uma vez.

(Escrito provavelmente em 1984)

[Sobre el cemento fresco]

Sobre el cemento fresco

del mudo mar de mi ciudad

–entre los tristes botes

del muelle de pescadores–

echo mis redes. Desanudadas

mis preguntas

son unos desechos más

sobre la imantada superficie.

Sombras efímeras

mis anhelos.

Quiero morir. Morir.

Ponerme al día,

como dijo alguna vez de viejo

mi cansado padre.

Quiero morir

y hacer todo de nuevo.

(Escrito probablemente en 1987)

Leonardo Vieira de Almeida é escritor e doutor em letras (PUC-Rio). Autor dos livros de contos Os que estão aí (Ibis Libris, 2002), A flor no rosto (Multifoco, 2010) e Veredas do grande conto: a descoberta do sertão em Guimarães Rosa (ensaio, Editora da PUC-Rio em coedição com a Uapê, 2011). Defendeu tese sobre Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, e sua relação com a problemática do conto como carta de maioridade da literatura na América. Como pesquisador, desenvolve estudos sobre literatura brasileira, hispano-americana e comparada, atuando principalmente nas seguintes áreas: Guimarães Rosa, literatura do sertanismo, tradição fáustica, transculturação narrativa e neobarroco na América Latina, crônicas de descobrimento da América, Machado de Assis, tradução e estudo do conto. Em 2007, seu ensaio “Natureza e artifício: a voz peregrina em ‘O recado do morro’ ” foi agraciado com o prêmio Otto Lara Resende, concedido pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

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