Um animal
Alcança uma linda flor
Uma palavra escutada
Enterrada entre a poeira
Inabitável por agora
Uma palavra que te possibilitou viver
Em meio à humilhação
E o desamparo
Uma palavra retorcendo-se muda
Dentro do lodo
Dessa folha um fruto o ramo a árvore o mundo
Tudo isso orfandade
Uma palavra saída da tua boca
E contra nosso peito
Dardo e tocha fumegantes
Uma palavra que é deste mundo
Ou de qualquer outro
Embora intensamente vivida
Incandescentemente vivida
Melhor diríamos agora
Uma rede inflamada
Cobrando-te de cabo a rabo
Para sempre
Pedro Granados, A mirada (São Paulo: Escombros Editorial, a publicarse próximamente). Versión de Amálio Pinheiro*
[Un animal]
Un animal
Llega hasta la más bella flor
Una palabra escuchada
Enterrada entre el polvo
Inhabitable por ahora
Una palabra que te permitió vivir
Entre el absurdo
El desamparo
Una palabra retorciéndose muda
En medio del lodo
De la hoja el fruto la rama el árbol el mundo
Todo ello huérfano
Una palabra salida de tu boca
Y contra mi pecho
Dardo y cigarro humeantes
Una palabra que es de este mundo
O de cualquier otro
Aunque intensamente vividos
Incandescentemente vividos
Mejor diríamos ahora
Una trampa una red inflamada
Cobrándote de cabo a rabo
Para siempre
Pedro Granados, La mirada (Buenos Aires: Buenos Aires Poetry, 2020)
*Amálio Pinheiro é poeta, tradutor e professor no Pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUCSP. Coordena o Grupo de Pesquisa “Barroco e Mestiçagem”, onde se investigam as relações entre as áreas de literatura, comunicação e cultura na América Latina, ao mesmo tempo em que se experimentam modos de conhecimento não dualistas para o continente. Tem produzido ensaios e traduções comentadas de autores da Espanha, da América Latina e do Caribe. Desenvolve pesquisas sobre as relações entre a memória cultural, as artes e as ciências não clássicas, com ênfase nas conexões e ramificações entre voz, poema, corpo, séries culturais e paisagem urbana, que se desdobram aquém das dicotomias entre sociedade e natureza. Publicou, entre outros, “César Vallejo: o abalo corpográfico”, “César Vallejo a dedo” (tradução) “Aquém da identidade e da oposição. Formas na cultura mestiça”, “Nicolás Guillén: Motivos de son“, e “Rafael Alberti: Sobre os anjos” (tradução), “América Latina: barroco, cidade, jornal”, “Tempo Solto” (poemas).