Um convite à leitura! Prepucio carmesi y otras novelas cortas/ Alai Garcia Diniz

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Em geral, a autobiografia mobiliza atenção especial na narrativa contemporânea devido ao surgimento de subjetividades migrantes, constituidas pelo mundo globalizado e que, por si só torna deslocado o uso e o abuso do termo “identidade” que, no mundo moderno demarcou a “nação” como construção simbólica hegemônica. E se, além do termo autobiografia, o leitor vê acrescentado ao gênero literário, um adjetivo de raiz grega e, historicamente referido aos textos bíblicos, uma autobiografia apócrifa incitará o leitor a conhecer, não apenas como o estatuto ficcional mais elementar como o do fingimento se elabora por trás e no âmago dos relatos. Entretanto, depois de Borges, não há como descartar a criação do leitor que imagina também o que teria de secreto e oculto, e até mesmo de denegado no contingente exposto pelo que reverbera na polissemia do qualificativo apócrifo.

Entre o fim e o começo, entre a cidade branca de Lima e a paixão da viagem, uma paisagem que se descortina pelo repertório, nem sempre conhecido como o do poeta colombiano Raúl Gomez Jattin ou o escritor Jaime Sáenz e as imagens que se armam dos peruanos fora do país que, de discriminados em Santa Cruz de la Sierra, passam a bruxos em Cochabamba para lembrar apenas de dois epítetos. Em fluxos que se retraem, o mote são as relações amorosas de Juvenal com Alejandra, Mabel, Rosalba, Ramona, Rosa que fazem do provérbio: “uma mulher em cada porto” , o percurso de uma linguagem jocosa e intertextual. Da orfandade nos anos 80, a metáfora que recolhe esse exemplar da classe média de Lima, encontra na busca do amor um recurso literário que funciona com o leitor. Se o discurso se concretiza em um espanhol peruano de dicção coloquialista, superam expectativas as experiências de Juvenal Aguero entre corpos femininos e o oferecimento de uma escritura que como o prepúcio tem no movimento retrátil sua energia propulsora. Divertido e crítico, com laivos “sudacas”, as atitudes humanas marcam semelhanças e diferenças com a geração de emigrados que fugiram das ditaduras (no Brasil na década de 70). Juvenal não sai do país como contraventor, mas difere como um agraciado por ajudas humanitárias como as bolsas nos anos 80 (que não deixam de ser também consequência da violência anterior).

A marca poética de Pedro Granados mistura a lírica na prosa e combina outros gêneros como a entrevista, o provérbio e a epístola em meio aos procedimentos narrativos, sem cerrar-se nos limites ficcionais, mas como diz J.J.Saer, arregimentando recursos a fim de surpreender o leitor a cada passo.

Entre fim e começo, um relato que circula no intervalo entre os séculos – XX e XXI – dá voz à uma perspectiva da cultura latino-americana que deixa o mundo andino, já muito distante do exotismo, para assumir-se no deslocamento. Do mesmo modo, migra de um regime fálico que se enfrenta à critica de gênero, em voz de Juvenal Aguero, mas que expressa hábitos de uma subjetividade em movimento que parte da elaboração discriminatória do protagonista na sociedade limenha para as passagens de um sentir interfronteiriço, aberto às alteridades. Um eu no outro. Há algo de premeditado nesse Juvenal machista e misógino que me faz lembrar, em outras proporções, da ironia marcada por Washington Cucurto de Cosas de Negros (2003). Tendencia a marcar estereótipos dos impactos culturais na época das estéticas migrantes e num período em que o clichê “nadie es feliz” indica um tempo de Thanatos a que o vitalismo desses relatos de Pedro Granados vem a questionar porque como diz Juvenal Aguero, “el saber es gozoso. Cualquier saber”. Desse modo se sente o leitor envolvido nas histórias intrincadas e até certo ponto de vista familiares. Muitos outros destaques poderiam ser descritos sobre Prepucio carmesí y otras novelas cortas, mas na urgência, deixo a certeza de que a todos convido a uma leitura que, de fato, vale muito a pena conferir!

Alai Garcia Diniz
Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras, Pós-Graduação em Literatura; Pós-Graduação em Tradução.
NELOOL – Núcleo de Estudos de Literatura, Oralidade e Outras Linguagens
Universidade Federal de Santa Catarina
Atualmente na UNILA (PVS – CAPES)

Puntuación: 5.00 / Votos: 5

Comentarios

  1. Bruno E. Melo Martins escribió:

    "nadie es feliz carajo,
    nadie es feliz."
    yo que bebo
    fumo cigarillos
    no soy feliz
    tu que es
    una buena persona
    no es feliz
    carajo.

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