Mónica Volonteri
O trabalho a seguir fará um breve análise na obra da autora Mónica Volonteri – Máximo Gomez Bajando (2006). A partir de pressupostos e características da literatura épica “ocidental”, onde a autora descreve as dificuldades de uma mulher enferma em uma cidade desconhecida, defendendo o coletivo na perspectiva da pobreza em que Volonteri encontra e descreve, tendo em vista que durante os poemas a autora não fala por si mesma, e sim por um todo, além das mulheres, através do épico ela defende também os imigrantes, uma reconstrução do épico dentro da pobreza, com uma visão de heroísmo.
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
LETRAS – EXPRESSÕES LITERÁRIAS E LINGUÍSTICAS
LITERATURA DA COMARCA CARIBENHA
DISCENTE: AMANDA DA SILVA LIMA
DOCENTE: PEDRO GRANADOS
A épica “Ocidental” de Mónica Volonteri
Trabalho para nota parcial da disciplina: Literatura da Comarca Caribenha
Foz do Iguaçu
2013
A épica “Ocidental” de Mónica Volonteri
- 1. Introdução
Mónica Volonteri é narradora, poeta e dramaturga, nasceu na Patagônia, Argentina em 1964, hoje em dia a autora vive em Santo Domingo, República Dominicana. A principio a escritora não era considerada membro de um grupo generacionalista de poetas dominicanos de 80, até a publicação desse livro, pois faz menção ao feminismo, ao neobarroco e também a ícones do Cone Sul como Alejandra Pizarnik. (Granados, 2011, p.55).
O trabalho a seguir fará um breve análise na obra da autora Mónica Volonteri – Máximo Gomez Bajando (2006). A partir de pressupostos e características da literatura épica “ocidental”, onde a autora descreve as dificuldades de uma mulher enferma em uma cidade desconhecida, defendendo o coletivo na perspectiva da pobreza em que Volonteri encontra e descreve, tendo em vista que durante os poemas a autora não fala por si mesma, e sim por um todo, além das mulheres, através do épico ela defende também os imigrantes, uma reconstrução do épico dentro da pobreza, com uma visão de heroísmo.
A mulher dentro do épico, é uma das principais características, pois essa propriedade faz parte desse coletivo (mulheres e imigrantes). A partir da análise e definições sobre o épico na literatura, apresentarei alguns detalhes sobre a mulher, os imigrantes, dentro da épica ocidental em que a escritora se insere e descreve enquanto vai seguindo viagem pela avenida Máximo Gómez, que é possível encontrar nas entrelinhas da obra. A seguir alguns trechos da obra e seus comentários.
- 2. O Feminismo e outras características na épica Ocidental
Épico é o nome de um gênero tradicional de poesia, conhecida como poesia épica. No entanto, atualmente o termo é também usado em outros tipos de expressão artística, como romances, peças de teatro músicas e filmes, onde a história se centra em personagens heroicos, e a ação tem lugar em grande escala, tal como na poesia épica. Os épicos neste sentido são representações majestosas capazes de capturar lutas espantosas, tais como histórias de guerra, aventuras, e outros esforços de grande envergadura ao longo de extensos períodos de tempo. As histórias de personagens heroicos tiradas da vida real também têm sido referidas como épicos. As histórias épicas são escritas em forma de poemas, assim como o livro que está sendo analisado neste trabalho, Máximos Gómez bajando de Mónica Volonteri (2006) está dividido em 10 capítulos, onde os cinco primeiros capítulos estão nomeados como “Poema épico I, II, III, IV e V”, porém irei me deter apenas fragmentos do primeiro capitulo e do quinto, que estão nomeados em “Poema épico I” e “Poema épico V”.
O Feminismo é um tema que a autora trabalha e defende em sua obra através da mulher, e é caracterizado nos dias atuais como um movimento social, filosófico e político que tem como meta direitos equânimes (iguais) e uma vivência humana, por meio do empoderamento feminino e libertação de padrões opressores baseados em normas de gênero. Envolve diversos movimentos, teorias e filosofias advogando pela igualdade para homens e mulheres e a campanha pelos direitos das mulheres e seus interesses.
Observamos através do primeiro fragmento selecionado, características épicas na obra:
“ (…) Aún mejor
Quiero escribir en poema épico porque si
Porque no quiero ser la Pizernik
Ni qualquier otro arquétipo suicida de los Setenta
Yo no soy poeta
No lo quiero ser
Siempre he dicho
Que la poesía es un excelente ejercicio para la literatura
Que los pueblos sin narrativa no entraron en el orden
Del relato
De la cronología racional. (…)”
(VOLONTERI, 2006, p. 11)
A autora inicia o poema dizendo que quer escrever um poema épico, observa-se que fica claro a intenção inicial da obra, mesmo afirmando que não seja uma poeta, ela quer relatar a voz do povo sem narrativa, que entraram na ordem do relato, ou seja, no ocidente, que significa essa cronologia ocidental que ela cita.
“(…) Quiero escribir un poema épico de todos nosotros
Y fingir que soy poeta
Y sentir el dolor que de veras siento (…)”
(VOLONTERI, 2006, p. 17)
Neste fragmento também fica claro o objetivo dos poemas, a autora decide falar por um todo, falar pelo próximo. É possível afirmar que hoje em dia ninguém quer ser épico. Mas afinal, o que significa ser épico? Ser épico refere-se a própria epopeia, sinônimo de herói, livro épico, narração épica, onde descreve em versos os feitos heroicos, como por exemplo, os poemas épicos de Homero. Também significa o merecedor de pertencer ao domínio de uma epopeia, possuidor da grandiosidade dos heróis, ou até mesmo algum fato heroico, sem falar em veemência, magnitude fora do normal,algo extraordinário ou memorável, e tantos outros adjetivos. Segundo um dicionário da Língua Portuguesa: “Épico: qualificativo das grandes composições em que o poeta canta uma ação heroica”.
“(…) A veces se me ocurre
Que empezar con la hartura de Antígona
Estaría bién.
Yo también estoy harta
En el cambio
creo
Que Medea se parece más a mi madre
Que para vengar el desamor
Del Gran Ginecólogo de la Patagonia
Nos sentó a los tres en la sala
Y nos mató a tiros de escopeta a repetición.
Yo y mi hermana sobrevivimos,
Mi hermano no.
Las mujeres somos inmortales
Volvemos, siempre volvemos
Porque no soy un poeta
Sino un pulso herido que ronda las cosas del otro lado. (…)”
(VOLONTERI, 2006, p. 13-14)
Neste outro fragmento encontramos várias características da mulher como heroína, a primeira quando a ela cita Antígona, uma personagem da mitologia grega, a única filha que não abandonou o pai (Édipo), quando foi expulso do seu reino. Depois comparando sua mãe com outra personagem da Mitologia Grega, Medeia que vinga o amor de seu marido. É importante destacar quando a autora diz que as mulheres são seres imortais, a autora trabalha o tempo todo a ideia do épico durante a obra, principalmente quando cita personagens da Mitologia Grega.
“(…) Quién quiere ser una mujer quando se puede ser um héroe?(…)”
(VOLONTERI, 2006, p. 13-14)
Este trecho não se encontra em nenhum dos dois capítulos que estão sendo trabalhados neste ensaio, porém me chamou muito a atenção, partindo do pressuposto que a autora trabalha o gênero épico, e que fala por um todo, pode se afirmar que neste fragmento Volonteri quer resgatar a ideia de ser épico na literatura.
“(…) Si
Atravieso media Europa en tren
Nací en el otro fin del mundo
Vivo en el medio.
Es hora de ser épica
Pero no
Porque sí
O porque me da la gana
Como lloraba Federico García Lorca
Sino
Porque no hay otra alternativa. (…)
(…) En frente mío
Luis
Un uruguayo ex exilado político
Ingeniero en pozos petroleros
Iba hacia Rótterdam
Dijo
Que los molinos de viento
Con aspas de acero
Y cuerpo de cemento
Parecen palmeras. (…)
(…) La épica necesita
Al héroe
Que se anime
A enunciar
La terrible desgracia
Que se avecina
Que sale de América Boreal:
Otro genocidio
De las ideas
Del placer
De las diferencias. (…)”
(VOLONTERI, 2006, p. 35-41)
Por fim nesses últimos fragmentos Volonteri fala um pouco mais sobre os imigrantes dentro do épico, selecionei alguns e farei alguns comentários sobre. Primeiramente a autora diz que é preciso ser épico, que não tem outra alternativa, mais uma vez demonstra a intuito de resgatar esse gênero na literatura e no dia a dia. Em seguida ela cita “Luiz” o uruguaio exilado, características de um imigrante em inserção, alguém que não está no seu território habitual, mas que está à procura de se inserir na sociedade, talvez de uma forma épica, logo depois ela ressalta mais uma vez a necessidade da épica, da imposição as diferenças, do convívio com novas ideias, novos ideis e novas culturas, onde cada dia é uma luta, uma nova batalha a ser vencida e porque não através do épico? Para a autora a pobreza também é uma característica épica, onde ela faz umas reconstrução do heroísmo, o outro lado da moeda.
- 3. Considerações Finais
Volonteri em sua obra “Máximo Gómez bajando” (2006), é possível identificar características épicas como citado no decorrer do ensaio. A escritora é muito feliz em fazer essa mescla de temas utilizando o gênero épico. Além de características do feminismo, e dos imigrantes, a autora trabalha com a corrupção, o estado da saúde pública dominicana, e os enfermos que dependem desse beneficio público.
Através do épico a autora instiga esse gênero literário para o leitor, falando de uma visão ampla, não fala apenas da suas perspectiva, mas sim fala por um todo, comentado já no decorrer desse ensaio que ela tem a intenção de resgatar a ideia de ser épico na literatura, partindo de pressupostos da palavra épico ao pé da letra, e definições diversas que podem ser encaixados durante a viagem dela pela avenida.
- 4. Referências Bibliográficas
GRANADOS, Pedro. Breve Teatro para leer – Poesía Dominicana Reciente, 2011.p. 55-57
MICHAELIS 2000: Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Reader’s Digest e São Paulo: Melhoramentos, 2000. 2 v.
VOLONTERI, Mónica. Máximo Gómez bajando. Editorial Isla Negra, 2006.
AMANDA DA SILVA LIMA, brasileña, otra destacada estudiante de Letras de la UNILA.