Escrevo sem palavras o amor que já não tenho,
nunca tive.
Escrevo com um raio de trevas os desejos que me abocanharam ao entardecer,
deitado nas matas e campos de minha rua,
rolando mulheres,
homens,
bichos e bichas,
comíveis devoradoras atravessadas por meu olhos sem brilho.
Escrevo sem palavras minhas vontades ávidas,
banais,
carnalizadas num corpo,
numa voz,
num olhar que nunca vi.
Escrevo sem desejos,
os olhos náufragos em palavras tolas,
interditadas nas manhãs,
com suas manhas e auroras.
Escrevo sem amor as palavras que já não sinto,
nunca senti.
Palavras iluminadas de mundanidades,
instintos,
lâminas de sapé e capim santo rasgando a pele descarnada de meus ossos duros.