contemplação no pátio
A consciência é tímida; ama a solidão e a paz.
jean-jacques rousseau, emílio ou a educação
o sol ilumina obliquamente o pátio
há dois mil anos e neste momento
tremula certa, circular eternidade
o jardim extático é belo como sempre foi
o silêncio traz a mensagem além das horas
a brevidade da vida, este eterno tão breve
a brisa de outrora
é a brisa de agora
sábado qualquer
acendo o cigarro
burburinho da avenida
a noite fosforescente
luzes, traços rápidos
o brilho na boca das
moças que passam
caminho a esmo
estranho movimento
como certos jogos
sem propósito sigo
assim manipulado
por algo bem aqui
bem aqui dentro
mar de domingo
o avô esperava o almoço
em silêncio, como de hábito
fumávamos, bebíamos vermute
a avó senta-se um pouco na sala
estava cansada de cozinhar
fizera aquilo a vida inteira
olhávamos sem pensar
a vidraça para a rua inerte
era domingo, ainda é domingo
ouvíamos o barulho do mar
que então se avizinhava
a vales e montanhas dali
aviso da diretoria
[se tiveres sorte]
andarás por onde todo mundo anda
viverás como todo mundo vive
e te cansarás como todo mundo cansa
Cartas da alteridade (São Paulo: Selo Demônio Negro, 2020)
advertência [do autor]
“amo as frases densas porque aprecio também as diluídas. guardo admiração pelas sentenças abertas, cheias de ar e fumaça, uma bruma que me permite sair daqui para outros lugares. valorizo as palavras reunidas com todo o cuidado para dizer claramente o que se quer dizer. também prezo os termos esparramados ao acaso, para fazer pouco de nossa obsessão pela ordem e pela perfeição. sim, respeito a frase eterna e atento para aquela que não dura. exorto a palavra que se constrói porque — e sobretudo — trabalho na palavra que se destrói. assim há sentido em escrever”
Ergo, estamos ante un poeta consciente de su arte y de sus circunstancias. Aunque no sólo de esto. Concurren asimismo a sus poemas otras consciencias y voluntades; entre éstas, el Sol, un cigarro, sus avôs. Aquí la voz poética deja de ser constructiva o deconstructiva, utópica o distópica, correlacionada únicamente al mundo interno del autor; y se torna, más bien, testimonio de aquellas pacientes alteridades y, no menos, objetivas y acechantes simetrías. Conectada a la más reciente y viva poesía de la región, los poemas de Edney Cielici Dias pugnan o, más bien, se dejan ganar por el sentido. Giro ontológico le denominan a toda esta palada; pero no de muerte o entierro, sino de todo lo contrario. Movimiento que quiebra el óxido y desnuda el vasto archipiélogo que nos constituye y al cual pertenecemos. P.G.
Merecido aplauso ao poeta Edney Cielici Dias que é pura capacidade e inspiração.
Admiro sua identidade com o papel, forma de externar a sensibilidade mostrando seus mais profundos sentimentos e ao mesmo tempo induzir à compreensão de sua aversão aos padrões adversos. Faz o leitor deleitar, sonhar, viajar, raciocinar, acreditar, acreditar, duvidar, admirar, querer mais…
Simplesmente maravilhoso.