POEMA EM PAMPA
Tudo quieto e findo
E pura sensação de paz
Como agora
Um cubo desabitado,
Sóbrio
E com aroma de madeiras
Porém fruto das sombras
E das luzes dos dias
A descoberto
Em flagrante
A viagem, o regresso
E a espera de esperar
Ave metálica no interior
Desse cubo bendito
Alvoroço estridente
E não menos invisível
Entre aroma de madeiras
Hei de morrer, hei de despedir-me
Ou ao menos hei de empreender
Algum tipo de viagem
Vagabundear um átimo
Pelo que somos
Assim me olha Germán
E me contempla
Minha amorosa mãe já
Desaparecida
Ave de asas no topo
Entre os ângulos de meu cubo
Ânsias de amor, desassossego
Ante a ausência de janelas
Você é minha janela, a paz,
A bem-aventurada alegria
Neste mundo
E a roda, a aspa,
O salto no vazio
Que somos
No interior de seu corpo
Também tênue gaze
E o leve
Apenas se resiste
Fui um poeta entretido
Pela pele e seu sabor
E suas morenas e cálidas mãos
Que tentam todavia
As polegadas de meu ser tornadiço
Às suas carícias
Sensível a aura de sua espera
Flor de mirada aberta e fecunda
Talvez não saiba morrer
Talvez decepcione no
Último minuto
Metálica ave incômoda
De bico e garras
Contra superfície tão brunida
Do cubo
De ombros e esplêndida cabeça
Ante o pesado do mundo
Por dentro
Imagen: “Agujero negro” por Olga de Amaral.