AMOR
Amor, já não voltas aos meus olhos mortos;
E qual meu idealista coração te chora.
Meus cálices todos aguardam abertos
Tuas hóstias de outono e vinho de aurora.
Amor, cruz divina, rega meus desertos
Com teu sangue de astros que sonha e que chora.
Amor, já não voltas aos meus olhos mortos
Que temem e anseiam teu pranto de aurora
Amor, não te quero quando estás distante
Rifado em cortes de alegre bacante,
Ou em frágil e achatada afeição de mulher.
Amor, vem sem carne, de um Icor que assombre;
E que eu, a maneira de Deus, seja o homem
Que ama e gera sem sensual prazer!
DESPEDIDA RELEMBRANDO UM ADEUS
Ao cabo ao fim, por último,
Tomo, voltei e acabo-me e os gemo, dando-os
A chave, meu chapéu, essa nota para todos.
Ao cabo da chave está o metal em que aprendêramos
A desdourar o ouro, e está, ao fim
Do meu chapéu, este pobre cérebro mal penteado,
E, último vaso de fumaça, em seu papel dramático,
Jaz este sonho prático da alma.
Adeus irmãos são pedros,
Heráclitos, erasmos, espinosas!
Adeus, tristes bispos bolcheviques!
Adeus, governadores em desordem!
Adeus, vinho que está na água como vinho!
Adeus, álcool que está na chuva!
Adeus também, me digo a mim mesmo,
Adeus, vôo formal dos miligramas!
Também adeus, de modo idêntico,
Frio do frio e frio do calor!
Ao cabo, ao fim, por último, a lógica
Os lindeiros do fogo,
A despedida relembrando aquele adeus.
AO MEU IRMÃO MIGUEL
Irmão, hoje estou no poial da casa.
Onde fazes uma falta sem fundos e
Me lembro que brincávamos esta hora, e que mamãe
Nos acariciava: “Mas, filhos…”
Agora eu me escondo,
Como antes, todas essas orações
Vespertinas, e espero que você não dê comigo.
Pela sala, no saguão, nos corredores.
Depois, você se oculta, e eu não dou com você.
Me lembro que nos fazíamos chorar,
Irmão, naquele jogo.
Miguel, você se escondeu
Uma noite de agosto, ao amanhecer;
Mas, ao invés de te ocultares rindo, estavas triste.
E teu gêmeo de coração dessas tardes
Extintas entediou-se de não te encontrar. E já cai sombra na alma.
Escute, irmão, não demores
Em sair. Está bem? Mamãe pode se inquietar.
Leila Yatim, extraordinaria joven traductora paranaense; tuve el honor de tenerla como alumna en la UNILA, Brasil.