Capadócia
Ando a fim de todo mundo:
do motorista do uber
do ex-professor, do músico,
do médico, do porteiro,
de um de lá de São Paulo
do vizinho e do vendedor de carros.
Ando a fim de todo mundo
e, inúmero,
amo o planeta inteiro
essa sucursal
uma flor de bananeira
bem no pico do meu ventre —
a cortiça dessalgada
pela trompa de um incêndio.
Umbilical
As casas que me habitaram
nunca disseram adeus.
No meu corpo de desenganos
cada madeira, cada farpa.
Entre o menino que se foi
e o homem que não chegara,
impõe-se cada cômodo…
alguns sonhos, ambas fraquezas.
Às vezes penso que quem
me pariu não foi a mãe ida,
mas o concreto com frestas
que iluminou planos de pipas,
minha última barba.
A casa que agora me vive
é um cubículo, um palácio
de pedras agras
Clarissa Macedo (BA). Escritora, revisora, professora e pesquisadora brasileira, doutoranda em Literatura e Cultura. Publicou O trem vermelho que partiu das cinzas (Pedra Palavra – 2014) e Na pata do cavalo há sete abismos (7Letras – Prêmio Nacional da Academia de Letras da Bahia – 2014, em segunda edição pela Penalux, 2017), ambos de poesia. Sua obra está traduzida para o espanhol (En la pata del caballo hay siete abismos – tradução de Verónica Aranda, Editorial Polibea, Madrid) e em processo de tradução para o inglês. Prepara quatro novos livros. Publica na página http://clarissammacedo.blogspot.com.br. Contato: clarissamonforte@gmail.com.