We changed Santo Domingo en esto: um ensaio sobre a troca da aura dominicana for Dollares and Euros/ Ana Lúcia Ferreira Busquet

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Glaem Parls (Foto: revistapingpong)

Partindo do conceito de “aura” nas produções artísticas, tema o qual Walter Benjamin problematiza em seu texto “A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica” (1995), o presente trabalho tem com pretenção estabeler uma relação entre a existência da dita “aura” na cidade de São Domingo descrita por Manuel  Rueda em “Santo Domingo es esto”,  presente na antológia “La ciudad en nosotros” (2008), compilada por Soledad Álvarez, e em oposição à primeira, a não existência da “aura” na cidade de São Domingo, descrita por Glaem “Pippen” Parls, em seu poema “We changed Dollares and Euros” presente no livro “Breve  teatro para leer” de Pedro Granados.

 

Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)

We changed Santo Domingo en esto: um ensaio sobre a troca da aura dominicana for Dollares and Euros.

Ana Lúcia Ferreira Busquet

Foz do Iguaçu, 20 de Novembro de 2013.

Introdução:

Partindo do conceito de “aura” nas produções artísticas, tema o qual Walter Benjamin problematiza em seu texto “A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica” (1995), o presente trabalho tem com pretenção estabeler uma relação entre a existência da dita “aura” na cidade de São Domingo descrita por Manuel  Rueda em “Santo Domingo es esto”,  presente na antológia “La ciudad en nosotros” (2008), compilada por Soledad Álvarez, e em oposição à primeira, a não existência da “aura” na cidade de São Domingo, descrita por Glaem “Pippen” Parls, em seu poema “We changed Dollares and Euros” presente no livro “Breve  teatro para leer” de Pedro Granados.

O que nos interessa aqui acerca da teoria de Walter Benjamin, é que para ele a aura na produção artística tem a ver com uma relação quase experimentalmente manual entre o produtor (no presente caso, o artísta), sua obra de arte, e o diálogo que estabelece com seu público e com o momento histórico-social em que é produzido. Entenderemos melhor essa perspectiva de acordo com as palavras do autor “a autenticidade de uma coisa é a soma de tudo o que desde a origem nela é transmitível, desde a sua duração material ao seu testemuno histórico” (BENJAMIN, 1936, p.2).

Já a perca desta aura se dá a partir do momento em que a relação da produção manual entre artista e obra dá lugar a (re)produção de obras de arte, advento da reprodutibilidade téncíca que transforma obras únicas em (re)produções em série. A perca da aura esta ligada também ao crescente papel que desempenha as massas na contemporânidade, salienta Benjamin “E, se pudermos entender, como decadência da aura, as relações entre o medium da percepção de que somos contemporâneos, também é possível mostrar as condições sociais dessa decadência” (BENJAMIN, 1936, p.3).

Não nos compete aqui dicotomizar ambas pespectivas a respeito da aura e da não aura e suas relações histórico-sociais ou até mesmo político-culturais, nem ao menos elevar uma perspectiva sob a outra. Apenas nos serviremos das reflexões estabelecidas por Walter Benjamin para analisar duas distintas descrições da cidade de Santo Domingo, República Dominicana, através de fragmentos dos poemas.

A contextualização:

(…) Em todas as artes existe uma parte física que não pode continuar a ser olhada nem tratada como outrora, que já não pode subtrair-se  ao conhecimento e potência modernos. Nem a matéria, nem o espaço, nem o tempo são desde há vinte anos o que foram até então. É de esperar que tão grandes inovações modifiquem toda a técnica das artes, agindo, desse modo, sobe a própria invenção, chegando talvez mesmo a modificar a própria noção de arte em termos mágicos.

Paul Valéry: Piéces sur I’art. Paris (s.data), (p.103, 104)

Ainda que a citação de Paul Valéry não seja datada, sua atemporalidade é tamanha que conseguríamos perfeitamente compreendê-la a partir de duas situação distintas na produção artística. Se de um lado temos a produção setentista da “poesía del pensar” onde se encontra Manuel Rueda, e que, segundo Tomáz Hernandez Franco “Rueda escarba en la mitología nacional haitiana y extrae de ella uno de sus mitos de fundación con la idea de problematizar la presunta naturaleza homogênea de la identidad cultural dominicana (FRANCO, 2005 apud GRANADOS, 2011, p.27). Do outro lado, temos a produção oitentista de Glaem Pippen Parls, considerado líder do grupo dos “erranticistas”, cuja principal característica poética, está na reivindicação de suas raízes afro-dominicanas, aunque sin caer en lo folklóico ni, pareciera ser, tampoco en el prurito de la negritud (GRANADOS 2011, p.97).

Enquanto no poema San Domingo es esto de Manuel Rude, temos a descrição de uma cidade a partir de um ponto de vista de um eu lírico com autoridade e vivência desta cidade tão bem caracterizada a partir dos pequenos detalhes, como as pessoas, as ruas, os poetas, ou mesmo a descrição da música. No outro, temos em Pearls no poema We changed Dollares and Euros a descrição da mesma cidade, agora em uma novo cenário socio-cultural e no entanto, a partir de um texto que poderíamos compreender como uma propaganda publicitária, ou memso um anúncio de viagem. Temos uma cidade a qual se quer promover/vender, graças às mudanças e inovações alcançadas poe ela, as quais são inerentes à própria humanidade. Essas mudanças são lembradas por Paul Valerý no trecho acima.

A troca da aura dominicana for dollares and euros:

Vejamos um trecho do poema “Santo Domingo es esto”, de Manuel Rueda:

Santo Domingo es esto: un millón de habitantes que te miran

un millón de moribundos que se esfuerzan

bajo el sol

Que hacen ruido y te miran

te gritan

te esquivan a sabiendas

te persiguen

te violan

te agarran la solapa

te sacuden los hombros

te iterrogan

te besan

te preguntan

te comprimen

te arreglan la corbata

(…)

Apartir deste recorte, vemos através das palavras de Rueda, a presença constante de seu contato com este “ser dominicano”, o qual é relatado minunciosamente se fazendo utilizar de detalhes que nos asseguram de que este autor conhece a realidade de Santo Domingo desde um lugar de pertencimento deste mundo descrito. Esta subjetividade que nos remete a uma produção quase manual de um objeto, no qual o escritor e a obra tem uma intimidade nítida,  acompanha narração do poema de Rueda, e a torna autêntica.

Temos a então presença do que vamos considerar a partir do conceiro de Walter Benjamin, como sendo aura da cidade de Santo Domingo, relatada através das palavras de Rueda, que se preocupada em descrever não só as belezas da cidade, seus poetas, como também a parte negra deste lugar, denunciando de certa forma silêncio que sofrem os artistas em Santo Domingo, e até mesmo encorporando a sua narrativa, os bebâdos que ali é possivel se encontrar.

Já o cenário contemporâneo do qual Pippen descreve Santo Domingo, nos faz refletir acerca da comercialização deste espaço, dado principalmente pelo crescimento constante do sistema capitalista. Temos uma cidade for export preocupada apenas em sua autopromoção com foco na intenção de se fazer bons negócios com pessoas exteriores a essa realidade, estrangeiros que possuem pouco ou nenhum conhecimento acerca da realidade do lugar.

Vejamos um trecho de “We changed Dollares and Euros”:

“… Se cambian dollares y euros por cotorra y vacaneria…

sevenden morenas y presidentes bien fríos…

Cd´s de merengue con lo nuevo del cuco…

 

los cuadros taínos al por mayor y al detalle…

 

los condones van por cuenta

 

de la casa… aquí tenemos el mejor servicio de todo el

 

caribe… las mejores playas… los mejores drug points…

 

lavanderías complete time… hoteles cómodos limpios y

 

baratos… perfectos para disfrutar de los atletas sexuales

 

que produce la tierra más amada por Cristóbal Colon…

 

 

(fragmento retirado do poema We changed Dollares and Euros, Glaem “Pippen” Parls)

 

Neste trecho inicial, podemos sentir a distância do narrador para com esta cidade que ele descreve. A cidade parece ser tão estranha a ele quanto um produto é estranho a máquina que o produz – assim como é estranha às centenas destes mesmos produtos, que produzirá por dia. Neste sentido, já não temos mais a subjetividade que torna a obra de arte autêntica, há apenas uma necessidade de se produzir mais, se receber mais turistas com bons hoteis, se vender mais desta cidade paradisíaca, deste sangue latino afrodisíaco que corre pelas veias das mulatas, e dos quais os turistas ficam sabendo através de anúncios comerciais, como deseja se fazer o poema de Parls. Segundo Walter Bejamin (1936), podemos resumir a falta desta autênticidade no que simbolizamos por  aura,  e dizer que o que murcha na era da reprodutibilidade técnica da obra de arte é no entanto, a sua aura.

 

Considerações finais:

Sendo assim, podemos associar a presença da aura na descrição da cidade de Santo Domingo feita por Rueda, e a ausência dessa aura na descrição desta mesma cidade, feita por Pippen principalmente a ascensão que teve o capitalismo dos anos setenta, momento em que não era tão nitidamente percebido no que se refere à descrição de Santo Domingo, até os anos noventa, onde exerce uma maior força com respeito a isto.

O contato com a cidade passa a ter um caratér de promoção do ambiente em que se esta, com vistas a vender o melhor deste lugar para quem está de fora e costuma conhecer apenas os aspectos negativos no que diz repeito tanto à Santo Domingo, mas também no que se refere à visão a respeito da America Latina –  podemos falar de América Latina em termos culturais, uma vez que compartilhamos vários aspectos com os Dominicanos, já que em termos geográficos sabemos que esta se encontra localizada na América Central.

Entendemos também, que o tema da presença/ausência da aura na descrição desta dita cidade, tem uma relação direta com o contexto dado mas acima de tudo, com  as questões socio-culturais e socio-históricas, as quais interferem diretamente no proceço da produção artística, como fora levantado no começo deste trabalho, associadamente às palavras de Paul Valerý.

Não pretendemos encerrar esta discussão por aqui, e acreditamos que através da de outras reflexões acerca da influência capitalista na produção artística, poderemos enriquecer as bases deste trabalho, o que possibilitará outras discussões acerca deste tema na República Dominicana.

Referência Bibliográfica

BENJAMIN, Walter. “A Obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica”, 1936, 2º Edição 1955.

GRANADOS, Pedro. “Breve Teatro para leer – Poesia dominicana reciente”, Editora Mediaisla, 2011.

PARLS, Galem. “Santo Domingo es esto”. En “ “La ciudad en nosotros”. ALVAREZ, Soledad, Editora Buhú, 2008. 79 – 84.

 

Ana Lúcia Ferreira Busquet, brasileña, destacada estudiante de Letras de la UNILA.

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