Em quase todas as palestras e artigos em que o pesquisador Jesús Martin-Barbero fala sobre comunicação e sociedade, ele recorre a Teoria das Brechas. Segundo essa teoria, todo muro, por mais maciço que seja, sempre tem algumas pequenas brechas que alguém pode aumentar para derrubá-lo. Essa metáfora, que foi muito usada nos anos 80 para mostrar que sempre há alternativas aos sistemas totalitários e opressores, hoje é citada por Barbero para mostrar o papel da internet diante das mídias tradicionais.
Durante entrevista com a Assessoria de Comunicação da UNILA, Jesús Martin-Barbero afirmou que o modelo comercial adotado pelas emissoras de televisão e rádio, e a maioria dos veículos de comunicação impressos, não deixa espaço para o debate da realidade das pessoas. A alternativa é a internet que, conforme o pesquisador, está se tornando um espaço público, em que as pessoas têm a chance de expressar, não apenas sobre os temas oferecidos pela agenda da mídia, mas seus medos, desafios e protestos.
“Para você saber o que realmente está acontecendo em um país deve pesquisar em seus blogs. E lá você verá pessoas com perfis diferentes discutindo em igualdade. Estudantes de ensino médio argumentando com professores universitários. Hoje, o maior intercâmbio de conhecimento está nas diversas formas de discussão que há na internet”, explicou Barbero, que hoje é considerado um dos mais importantes estudiosos da comunicação da América Latina.
Produção audiovisual
Da mesma maneira, a internet é uma brecha para combater a concentração e a uniformização dos conteúdos por parte da indústria da mídia. Com equipamentos cada vez mais baratos e ferramentas simples, o público produz seu próprio conteúdo e coloca, em imagens, sua própria maneira de ver o mundo.
“O que estamos vivendo é a possibilidade de colocar em prática a criação, a criatividade, a imaginação social e a experimentação. É apaixonante ver como as pessoas usam dos vídeos na internet para mostrar e discutir sua vida cotidiana”, destacou. Barbero cita como o exemplo um projeto pioneiro da Catalunha – região ao nordeste da Península Ibérica – que possibilitou que todos os municípios produzissem programetes. Os temas são livres e, após finalizadas as produções, elas eram disponibilizadas na internet para que houvesse intercâmbio entre as cidades.
“Nesses programas está estampada a vida das crianças, dos jovens, das donas de casa, dos idosos. Algo que não se vê na televisão, nem mesmo na TV pública”, comenta.
Jesús Martin-Barbero: “A internet é uma brecha contra a concentração da mídia”