Simpósio Haroldo de Campos 202

Simpósio Haroldo de Campos 2021

A TRADUÇÃO DO MICRO AO MACRO

De 21 a 25 de setembro de 2021

Inscrições: de 10 de agosto a 16 de setembro

(Será fornecido certificado de participação)

(o evento será realizado on line pelo Zoom)

Além de grande poeta e crítico renovador e incisivo, Haroldo de Campos foi tradutor e teórico da tradução de reconhecimento internacional. Tendo Ezra Pound como uma das principais referências nesse âmbito de sua atuação, Haroldo realizou trabalhos marcantes ao traduzir Mallarmé, Joyce, Maiakóvski, Dante, Goethe, Octavio Paz, livros da Bíblia e a Ilíada de Homero, entre outros. Como pensador da tradução, refletiu e escreveu sobre diversos aspectos dessa prática, desde sua microfísica até sua metafísica. Por meio de conceitos como “transcriação” e “plagiotropia”, contribuiu para aprofundar o entendimento do papel da tradução na história da literatura – projetando recortes sincrônicos na linha diacrônica da tradição –  e, principalmente, pensando sua contribuição no contexto recente do mundo interconectado, ao mesmo tempo globalizado e plural pois, conforme ele escreveu, “a tradução – vista como prática de leitura reflexiva da tradição – permite recombinar a pluralidade de passados possíveis e presentificá-la como diferença […]”. Esta edição do Simpósio Haroldo de Campos reúne alguns dos principais estudiosos de sua obra e alguns tradutores da nova geração para refletir sobre as várias facetas do legado de Haroldo neste campo da criação e do conhecimento.

Organizadores: Julio Mendonça e Marcelo Tápia

Mesa

DESBABELIZAR E TRANSGREDIR

Terça, 21 de setembro, às 19h

“A convergência fulgurante do dessemelhante”: a poesia como código universal

Com Marcelo Tápia

Valendo-se de referências fundamentais adotadas por Haroldo de Campos acerca de poesia e tradução, a palestra aborda como a “reversão do impossível em possível” por meio da recriação poética – associada, em princípio, a certa ousadia transgressora – pode ser um instrumento para a “complementaridade da intenção das línguas”, e como, por sua função crítica, pode responder à hegemonia dos textos originais e das culturas em que se inserem. Propõe-se, assim, uma leitura do legado haroldiano de modo a explicitar o potencial do intracódigo da poesia como ambiente de convergência linguística, artística e cultural.

Marcelo Tápia

Poeta, tradutor, ensaísta e professor, é graduado em Letras (Português e Grego) e doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP, onde também realizou pós-doutorado em Letras Clássicas. É professor do LETRA – Programa de Pós-Graduação em Letras Estrangeiras e Tradução da FFLCH-USP. Dedicado a estudos acerca de museus-casas, preservação e produção de memória, é diretor da Rede de Museus-Casas Literários de São Paulo, formada por Casa das Rosas, Casa Guilherme de Almeida e Casa Mário de Andrade, instituições da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de S. Paulo.

Palestra

Nós de tradução: política e corporeidade na tradução decolonial

Com Márcio Seligmann-Silva

Haroldo de Campos, com a sua teoria e prática fortemente autorais quando se tratava de tradução, apresenta uma série de questões que são ressignificadas no bojo das teorias pós-coloniais de tradução. Como a diáspora impõe novas tarefas de política de tradução, que leva em conta “geografias nômades” e corpos deslocados? Como a tradução pode ser entendida como gesto de construção de uma casa para agrupamentos desterritorializados? O que significa uma tradução não outrizante e construtora de novos jogos identitários? Em que medida a visada antropofágica pode ser libertadora e em que medida ela também é conservadora?

Márcio Seligmann-Silva é professor titular de Teoria Literária na UNICAMP e pesquisador do CNPq. Possui graduação em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo , mestrado em Letras (Língua e Literatura Alemã) pela Universidade de São Paulo , doutorado pela Freie Universität Berlin, pós-doutor pelo Zentrum Für Literaturforschung Berlim e por Yale. É autor dos livros Ler o Livro do Mundo. Walter Benjamin: romantismo e crítica poética (vencedor do Prêmio Mario de Andrade de Ensaio Literário da Biblioteca Nacional em 2000), O Local da Diferença. Ensaios sobre memória, arte, literatura e tradução (vencedor do Prêmio Jabuti 2006) e A atualidade de Walter Benjamin e de Theodor W. Adorno, entre outros.

Mediação: Julio Mendonça

Mesa

PENSAMENTO E PRÁTICA DA TRADUÇÃO NA OBRA DE HAROLDO

Quarta, 22 de setembro, às 19h

Palestra

Por uma transluciferação mefistofáustica: Roman Jakobson com Haroldo de Campos

Com Max Hidalgo

Esta contribuição se interessa no problema da tradução em Haroldo de Campos a partir das suas relações com Roman Jakobson, autor que desde 1966 se tornou uma referência fundamental para o poeta brasileiro, como testemunha a correspondência entre os dois intelectuais conservada no arquivo Jakobson do MIT. O estudo da presença de Jakobson na poética de Haroldo e dos usos criativos que ele fez permitem pensar – tendo presente a contemporaneidade de Deus e o diabo no Fausto de Goethe (1981) e “Da razão antropofágica: diálogo e diferença na cultura brasileira” (1980) – nas relações entre transcrição e transculturação e possibilitam uma teoria da cultura baseada em uma teoria da tradução.

Max Hidalgo Nácher é professor de Teoria da Literatura e Literatura Comparada na Universitat de Barcelona. Realizou estadias de pesquisa na Universidad Nacional de Rosario (2013), Universidade de São Paulo (2015 y 2017), Fundação Haroldo de Campos (2018) e Harvard University (2016). Publicou artigos sobre Jorge Luis Borges, Oscar Masotta, Leyla Perrone, Nicolás Rosa e Roland Barthes, entre outros, e na atualidade estuda a biblioteca de Haroldo de Campos, as suas redes intelectuais e a construção de uma teoria da escrita ligada à tradução.

Palestra

A microfísica da tradução

Com Amálio Pinheiro

A tradução como transcriação em Haroldo de Campos opera a partir de uma microfísica, espécie de ciência molecular da linguagem poética, que dissipa, pela confluência da diferença em progresso, o fechamento metafísico da interpretação do significado. Daí a interação necessária entre o fecundar-se pela radicalidade do texto de partida e o diferir decisivo da condição cultural e alterada do texto de chegada.

Amálio Pinheiro é poeta, tradutor e professor no programa de Pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUCSP. Coordena o Grupo de Pesquisa “Barroco e Mestiçagem e tem produzido ensaios e traduções comentadas de autores da Espanha, da América Latina e do Caribe. Desenvolve pesquisas sobre as relações entre a memória cultural, as artes e as ciências não clássicas, com ênfase nas conexões e ramificações entre voz, poema, corpo, séries culturais e paisagem urbana. Publicou, entre outros, “César Vallejo: o abalo corpográfico”, “César Vallejo a dedo” (tradução) “Aquém da identidade e da oposição. Formas na cultura mestiça”,  “América Latina: barroco, cidade, jornal”, e “Tempo Solto” (poemas).

Mediação: Julio Mendonça

Mesa

OS POETAS CONCRETOS E A TRADUÇÃO

Quinta, 23 de setembro, às 19h

Caros camaradas futuros! Haroldo de Campos e os russos

Com Eduardo Jorge de Oliveira

“O poema é um objeto histórico e não um reflexo da história”, escreveu Boris Schneiderman, em 1985, no prefácio da segunda edição de Poesia russa moderna, publicado originalmente em 1967. Foi nessa antologia que Haroldo de Campos traduziu “A encantação pelo riso”, de Khlébnikov, e “A plenos pulmões”, de Maiakovski. Sem dúvida ainda insuperável em termos de apresentação de poetas e da originalidade das traduções, trata-se de um livro-laboratório que se conecta com a atividade crítica de Haroldo de Campos, notadamente, seu diálogo com Roman Jakobson.

Eduardo Jorge de Oliveira é professor assistente de literatura, media e cultura da Universidade de Zurique. Fez seu Doutorado pelo Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Universidade Federal de Minas Gerais e pelo Departamento de Filosofia da École Normale Supérieure (ENS), Paris. Sua pesquisa de pós-doutorado foi desenvolvida na École des Hautes Etudes en Sciences Sociales (Paris). É autor de A invenção de uma pele – Nuno Ramos em obras (Iluminuras, 2018) e Signo, sigilo – Mira Schendel e a escrita da vivência imediata (Lumme Editor, 2019).

O futurismo russo e a poesia de vanguarda brasileira: Incorporação, Tradução, Convergência

Com Odile Cisneros

Num artigo a respeito das vanguardas do pós-guerra, Anna Katharina Schaffner conclui que, na obra dos poetas concretos Augusto e Haroldo de Campos, a tradição vanguardista – “é tanto cancelada como preservada, é negada, assimilada e continuada, e finalmente elevada a um nível diferente”. Esta comunicação analisa a tradução sistemática de poesia futurista realizada pelos poetas concretos a partir dos anos 60 como parte integrante de tal recuperação que produziu as coleções, Poemas de Maiakovski (1967) e Poesia russa moderna (1968) em colaboração com estudioso e tradutor do russo Boris Schnaiderman.

Odile Cisneros é professora Associada do Departamento de Línguas Modernas e Estudos Culturais da Universidade de Alberta, em Edmonton, Alberta, Canadá. Com Richard Young publicou Historical Dictionary of Latin American Literature and Theater (2011). É co-editora e tradutora de Novas: Selected Writings of Haroldo de Campos (2007) com A.S. Bessa. Traduziu, entre outros, Régis Bonvicino, Haroldo de Campos e Jaroslav Seifert. Sua tradução para o inglês de Galáxias, de Haroldo de Campos, será publicada pela casa editora Ugly Duckling Presse (Brooklyn) em 2021.

Mediação: Reynaldo Damazio

Mesa

WALTER BENJAMIN E HAROLDO DE CAMPOS: DUAS CONCEPÇÕES DE TRADUÇÃO EM DIÁLOGO

Sexta, 24 de setembro, às 19h

Acaso objetivo: Haroldo de Campos, leitor de Walter Benjamin

Com Gabriel Borowski

A presença da reflexão tradutória de Walter Benjamin no pensamento teórico de Haroldo de Campos proporciona uma conjugação inovadora das ideias do filósofo judeu alemão  com a teoria do linguista russo Roman Jakobson e a “proposta antropofágica” do modernismo brasileiro. Através de uma série de deslocamentos teóricos, a dimensão messiânica da tradução (no ensaio “A tarefa do tradutor”, de 1923), cede lugar, na visão de Haroldo de Campos, a uma reflexão de índole (pós-secular). O objetivo da comunicação será discutir o processo de transição do messianismo tradutológico de Benjamin à missão tradutória de Campos através de uma leitura de textos críticos ilustrativos para a formação do paradigma transcriativo.

Gabriel Borowski — professor no Departamento de Estudos Portugueses e Tradução da Universidade Jaguelônica de Cracóvia (Polônia), diretor do Centro de Estudos Brasileiros da mesma instituição, tradutor das literaturas lusófonas para a língua polonesa e da literatura polonesa para o português. Atualmente está realizando um projeto de pesquisa intitulado “Transcriações: antologia de textos teóricos de Haroldo de Campos” financiado pelo Programa para o Desenvolvimento das Humanidades da Polônia.

Transcriação translíngue

Com Patrícia Lavelle

O objetivo de minha intervenção será pensar as transformações da “metafísica da tradução” de Benjamin na “física” da prática tradutória proposta por Haroldo de Campos. Para isso, examinarei as motivações éticas e utópicas que fazem do desejo de traduzir um ponto de vista a cada vez singular sobre a universalidade da tarefa que, segundo Benjamin, visa « a pura linguagem ». Proporei também uma nova compreensão desta noção benjaminiana como um “entre línguas” que práticas e experiências translíngues contribuem para dinamizar.

Patrícia Lavelle é poeta, ensaísta, tradutora e professora do Departamento de Letras da PUC-Rio, atuando na graduação e na pós-graduação. Tem doutorado em Filosofia pela École de Hautes Études en Sciences Sociales de Paris e foi professora estrangeira convidada na École Normale Supérieure de Paris (ENS-Paris). Editou para a série “Cahiers de l’Herne” o volume Walter Benjamin, que reúne cartas, documentos biográficos, textos inéditos do autor e 39 ensaios de especialistas. Para a revista Cult, faz a curadoria da série “Arcas de Babel”, que reúne traduções de poesia de diversas línguas para o português. Seu novo livro, Walter Benjamin metacrítico. Sete ensaios para uma poética do pensamento, está atualmente no prelo (Relicário/Editora PUC).

O lugar do livro e da edição em Haroldo de Campos e Walter Benjamin

Com Susana Kampff Lages

A palestra propõe refletir em que medida o pensamento de Haroldo de Campos, tanto sobre a criação, quanto sobre a tradução poética, seria tributário não apenas do ensaio benjaminiano sobre “A tarefa do tradutor”, mas também da intuição do autor berlinense sobre as transformações que o objeto livro viria a sofrer em função das inovações técnicas do início do século XX, tais como a fotografia e o cinema , bem como a difusão do jornal impresso.

Susana Kampff Lages é bacharel em Letras (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), licenciada por complementação pedagógica em Língua Alemã (UFRGS/Universidade de Munique), mestre em Literaturas da Língua Portuguesa (UFRGS) doutora em Comunicação e Semiótica – Literatura (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e pós-doutora pela Universidade de São Paulo. Desde 2005 é professora de língua e literatura alemã da Universidade Federal Fluminense. Em 2003 recebeu o Prêmio Jabuti na categoria Crítica literária pelo livro Walter Benjamin, Tradução e Melancolia. No campo da literatura brasileira, dedica sua reflexão a obra de autores da modernidade, entre os quais, Guimarães Rosa e Haroldo de Campos.

Mediação: Marcelo Tápia

Mesa

A TRADUÇÃO CRIATIVA NO BRASIL, HOJE

Sábado, 25 de setembro, às 15h

Levando óleo na peneira: cavalos da tradução-exu

Com Guilherme Gontijo Flores

No último meio século, vimos imperar no Brasil a veia da tradução poética; de modo que podemos afirmar que aqui vivemos uma tradição forte, porém rara no Ocidente, que deve muito ao empenho teórico e prático de alguns nomes, mas sobretudo de Haroldo de Campos. Gostaria de mostrar alguns casos curiosos dos últimos tempos, vindos de poetas-tradutores, e que venho reunindo sob o nome de “tradução-exu” por guardarem singularidades que, se partem muito da ideia de transcriação haroldiana, parecem chegar a resultados bastante singulares e que pedem novas teorizações.

Guilherme Gontijo Flores é licenciado em Letras pela UFES, mestre em Estudos Literários pela UFMG e doutor em Estudos Literários pela USP. É poeta, tradutor e professor de latim na UFPR. Publicou os livros de poesia brasa enganosa ,  carvão : : capim , entre outros, além do romance História de Joia (Todavia, 2019). Como tradutor, publicou, entre outros: A anatomia da melancolia, de Robert Burton (vencedor dos prêmios APCA e Jabuti de tradução) e Epigramas de Calímaco (Autêntica, 2019). É coeditor da revista e blog escamandro (https://escamandro.wordpress.com) e membro do grupo de performance e tradução Pecora Loca.

“A letra! O lixo!”: os desafios de traduzir James Joyce

Com Dirce Waltrick do Amarante

Um texto importante de Haroldo de Campos, intitulado “A poética do precário”, dialoga, a meu ver, com a teoria do precário desenvolvida pela artista chilena, radicada nos Estados Unidos da América, Cecilia Vicuña. Tomando por base a definição de precário desses dois artistas, abordarei alguns aspectos da tradução de Finnegans Wake, de James Joyce, uma obra feita de “detritos”.

Dirce Waltrick do Amarante é professora do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina. Autora, entre outros, de Para ler Finnegans Wake de James Joyce e tradutora e organizadora de Finnegans Wake (por um fio), ambos pela Iluminuras. Atualmente coordena a tradução coletiva de Finnegans Wake, a ser publicada sob o título Finnegans Rivolta, pela Iluminuras.

Mediação: Marcelo Tápia

Lançamento do livro

HC21 – LEITURAS DE HAROLDO DE CAMPOS

Co-organizado por Gustavo Reis, Moisés Nascimento, Raquel Campos

Sábado, 25 de setembro, às 17h

HC21 – leituras de Haroldo de Campos é um mapeamento da nova geração de pesquisadores e amantes da poesia, da crítica e da tradução de Haroldo. Uma nova geração que, muitas vezes, não conheceu o Haroldo indivíduo, mas que cresceu com ele como presença textual. Uma geração que não tem os preconceitos críticos de antes e faz com Haroldo o que quer: poesia, ensaio, tradução.

Textos de: Amara Moira, André Capilé, Fabiano Calixto, Guilherme Gontijo, Gustavo Reis, Mariangela Andrade, Marina Rima, Moisés Nascimento, Natália Agra, Nícollas Rizzi, Patricia Lino, Péricles Cavalcanti, Piero Eyben, Raquel Campos e Thiago de Melo.

Entrevista inédita com Ivan de Campos

Apresentação: Julio Mendonça

 

 

Puntuación: 5 / Votos: 4

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