Mi nombre es Alejandro Abdol

  20131119-libano_brasil.jpg

Apresentar-me é tarefa tão esquálida quanto o óxido que corroê o ferro de meu sangue. Talvez seja a questão do sangue que tem colocado em mim o assombro da tarefa. Chamam-me de Alejandro Abdol. Muito prazer. Mas não sei como eu chamaria a mim mesmo caso tivesse que me nomear.

Deram a mim os nomes comuns, de Alejandro e de Abdol. O primeiro significa aquele que defende toda a humanidade. Acho que jamais seria capaz de defender uma formiga e ainda assim sinto uma tremenda culpa por não ter coragem para defendê-la. É claro que minha pesquisa na biblioteca municipal não pode ser levada muito a sério. Os nomes ocidentais, em especial os de origem grega, como o meu, geralmente tem uma fumaça mitológica que os transforma em algo grande e louvável. Coisa que nunca me interessou. Meu segundo nome é Abdol. Porém o correto seria Abdul. Escrito com a vogal U, não com O. Por um motivo qualquer, a possível surdez do escrivão do cartório de registo de nascimentos ou até mesmo do padre que registrou minha alma aos céus católicos, assim foi por desejo de minha mãe. Meus dois nomes com a inicial A. Parecido com as pilhas AA. Embora eu não tenha energia alguma. Impera em mim a preguiça, o desleixo, a hipocrisia e um caos orquestral. Um regente surdo que exige de seus músicos a ditadura do compositor, uma partitura silenciosa que conserva a música de esferas que não são mais que formas de cristais terrosos. Sujos e embriagados. E é assim que me sinto em qualquer lugar, como um surdo numa orquestra. Não compreendo, nem sinto nada além do desconforto da gala, das caras e das expressões de genialidade da composição. Sinto-me como um guarani, perdido no centro da cidade hostil. Na terra que foi minha, já não é. Na região que nasci, não era minha. Mas agora é.

Minha mãe é brasileira, meu pai do Líbano. Nasci em Santa Rita, no Paraguai, espécie de oásis para os brasilguaios. Não foi meu caso, aquele lugar representou a ruptura de mundos ainda que em conflitos em mim, não me reconheceu tal como um dia ainda hão de me reconhecer. Minha mãe falava português. Meu pai árabe, um árabe que nunca entendi. Eu aprendi apenas o português até meu 14 ou 15 anos. Uma língua tão bonita. A línguas de minhas ideias confusas e ofuscadas pela fumaça dos caminhões e carros da cidade que hoje vivo: Ciudad del Este. Na sua profusão precária de afetos. No sentir permanente, uma saudade de minha mãe. De meu pai não tenho saudades, dele herdei o Abdou já citado acima. Significa servente. Se ao menos tivesse se esforçado um pouco mais, poria o complemento. Allah. Para ficar Abdullah. Assim meu nosso seria interpretado como servente de Deus. Mas apenas sou um servente. Um servente qualquer, como quis meu pai.

Alejandro Abdul o Abdol, acaso el  poeta iguacuence más interesante de nuestros días.

Puntuación: 4.67 / Votos: 6

Comentarios

Deja un comentario

Tu dirección de correo electrónico no será publicada. Los campos obligatorios están marcados con *